
Uma boa notícia para um coração inquieto
Fui criado em uma casa onde apenas a excelência era aceitável, e instruído a sempre dar o melhor de mim. Esta criação dada por meus pais, sem dúvida, me levou a superar muitas dificuldades paralisantes, às quais seriam intransponíveis para boa parte das pessoas, e neste sentido, eu sou grato a eles por isso.
A partir do momento em que conheci a Cristo e fui adotado por Deus como filho, naturalmente, todo o meu jeito de ser procurou se moldar à nova realidade, e sinceramente, isto é muito bom, pois é uma forma de dizer para Deus: "Você e importante para mim, eu quero amá-lo e segui-lo, e vou fazer o meu melhor para te agradar".
O problema é que, após minha conversão, a minha natureza "do velho homem" permaneceu coexistindo, e assim, me encontrei na condição que aflige todo o cristão, independente do tempo de conversão, idade, sexo ou condição de vida: "Como podemos dizer sermos imitadores de Cristo quando, na verdade, permanecemos sendo seres humanos falhos, miseráveis e pecadores?"
Muitos cristãos perdem as esperanças quando se veem presos neste dilema, e muitas vezes se afastam de Deus, deixando de procurá-lo por considerarem (erroneamente) que sua fé é vã. Isto ocorre porque a incapacidade de cumprirmos a palavra de Deus na plenitude, nos leva à sensação de que a nossa fé é insuficiente ou ineficaz.
Para resolver este dilema, decidi buscar esperança nas próprias escrituras, e busquei por uma explicação bíblica que conseguisse explicar as raízes desta angústia, para entendê-la e eliminá-la de uma vez por todas. Ao fazer isso, me deparei com alguns versículos que, devidamente contextualizados, impactaram bastante a minha percepção sobre o problema, e eu espero que eles sejam bastante úteis para que vocês não se vejam presos em questões existenciais semelhantes às minhas. Vamos ao primeiro deles:
Agora, portanto, já não há nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus. Pois em Cristo Jesus a lei do Espírito que dá vida os libertou da lei do pecado, que leva à morte. (Rm 8: 1-2)
Esta "lei do espírito que dá vida", a que Paulo se refere, materializa-se no poder do Espírito Santo que atua na vida dos filhos de Deus e os liberta da condenação do pecado. Essa lei opera plenamente com a redenção proporcionada pelo sacrifício de Cristo na cruz, e se materializa com o nosso compromisso de obediência a Deus. Ao caminharmos com Cristo, sob a Sua direção, somos capacitados a vencer o pecado e a alcançar a vida eterna, em contraste com a escravidão ao pecado e a condenação a quem estão submetidos todos aqueles que rejeitam a oferta de Cristo.
Contudo, apesar de nós, cristãos, sermos adotados por Deus em Cristo, nem sempre acertamos o alvo, e pecamos, muitas vezes repetindo os mesmos erros inúmeras vezes. Eu mesmo, ao me ver preso em hábitos e raciocínios da velha natureza, me vi sem esperanças por este motivo, e a causa disso é que, muitas vezes, interpretamos mal Romanos 8, considerando erroneamente que, se o espírito de Deus habita em uma pessoa, esta não pode mais pecar, pois a lei deste Espírito traz libertação, e se pecamos, não estamos verdadeiramente libertos, e a nossa fé é falsa. No entanto, este versículo não diz que os cristãos são libertos do pecado no sentido de que não mais pecam, mas sim que os cristãos estão livres da lei do pecado e suas consequências, ou seja, da morte que o pecado traz. Ou seja, esta passagem garante a remissão dos cristãos. Se assim fosse, todos os cristãos estariam em sérios apuros, pois não há um sequer que não cometa pecados. O próprio apóstolo Paulo, que escreveu a epístola aos Romanos, declara, em 1ª Timóteo, capítulo 1, que não é apenas um pecador, mas sim o pior deles:
Esta é uma afirmação digna de confiança, e todos devem aceitá-la: "Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores", e eu sou o pior de todos. (1 Tm 1:15)
Para complementar isto e trazer paz aos corações inquietos, João afirma, em sua primeira carta, que podemos contar com a defesa de Cristo no tribunal do Grande Dia:
Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, contudo, alguém pecar, temos um advogado que defende nossa causa diante do Pai: Jesus Cristo, aquele que é justo. (1 Jo 2:1)
O que se pode concluir é que, quando Jesus veio ao mundo e se ofereceu por nossos pecados, sabia que nós, cristãos de todas as eras, teríamos problemas em lidar com esta situação, e declarou que o seu perdão abrangeria também os pecados que ainda não haviam sido cometidos. Ou seja, o sacrifício dele não apenas se limitou aos tempos passado e presente, mas também atinge o futuro. E por isso, nós, que nascemos após o feito de Cristo no mundo, podemos nos regozijar, pois as Suas obras também nos alcançam e nos purificam.
Dessa forma, todo genuíno cristão pode ter paz e
tranquilidade pois, apesar dos pecados cometidos, antes e após a conversão,
temos Jesus como nosso fiador, que com seu sangue e sofrimento pagou a pena por
todos eles. Em Jesus, somos libertos das terríveis consequências do pecado,
temos vida em abundância, e podemos nos alegrar. Confiemos na eficácia de seu
sacrifício, e depositemos nela a nossa confiança, aquietando o nosso coração e
aguardando para que a sua obra se complete em nossas vidas.