
Um coração segundo o coração de Deus
Hoje eu gostaria de falar sobre o salmo 51, que fez toda a diferença na minha vida. Ele foi proferido por um dos meus personagens bíblicos favoritos, o rei Davi, após a repreensão recebida pelo profeta Natã, por ter agido mal e contra a vida do seu servo e guerreiro, Urias. No entanto, para falar sobre o seu valor, é necessário, antes, destacar alguns detalhes sobre a personalidade deste rei.
Ao ler sobre a história de Davi, que abrange desde o capítulo 16 de 1 Samuel até o capítulo 2 de 1 Reis, dois aspectos de sua vida saltam aos olhos: o primeiro deles é a sua pecaminosidade. À luz da Bíblia, Davi demonstrou ser cobiçoso ao desejar a mulher de outra pessoa, mesmo tendo as suas próprias. Ele também cometeu adultério ao se envolver com uma mulher que pertencia a outro homem. Além disso, o rei foi responsável por um homicídio ao matar Urias, o marido dessa mulher, que era um de seus próprios soldados. E, por fim, agiu de forma enganosa ao chorar hipocritamente a sua morte. O segundo deles é que, apesar de seus graves erros, Davi apresentava virtudes que o fizeram ser conhecido por Deus como um homem com um coração segundo a Sua vontade.
Como pode, pois, existir esta aparente contradição? Seria Deus arbitrariamente tolerante com os erros de Davi? Estaria Deus, por tê-lo escolhido e ungido para ser rei e governar a nação de Israel, usando de uma balança mais generosa, com a qual media os seus erros, sem imprimir sobre ele o peso da responsabilidade por seus pecados? Certamente não, pois se a Sua própria palavra afirma que não devemos fazer acepção, ou seja, tratar certas pessoas de maneira diferente, como poderia o Deus perfeito cometer esta violação de seu próprio princípio?
Esta aparente confusão reside no julgamento humano dos fatos pois, à nossa vista, pessoas guiadas por Deus não pecam, são perfeitas e irrepreensíveis. No entanto, a Bíblia em momento algum faz tal afirmação, e cita como características de uma pessoa segundo o coração de Deus ter consciência de sua natureza pecaminosa, não se importar de confessar os seus pecados a Deus e demonstrar genuíno arrependimento. Neste sentido, este salmo demonstra a postura correta que cada um de nós, pecadores, deve ter perante um Deus que, apesar de ser santo e justo, está pronto para perdoar os nossos pecados e transgressões. Ao orar a Deus e clamar por misericórdia, Davi se despe de todo o orgulho e senso de justiça própria e apela à bondade de Deus, reconhecendo não apenas os seus erros, como também a sua natureza finita e pecaminosa. Mais ainda, ele indica o seu desejo pelo fim dessa dupla realidade, e anseia que Deus possa trabalhar em sua vida e em seu coração para harmonizar o seu agir com a vontade de Deus. Eis aqui o Salmo 51:
Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe. Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei. Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão. Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável. Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito. Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer. Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os pecadores se voltem para ti. Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará à tua justiça. Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor. Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria. Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás. Por tua boa vontade faze Sião prosperar; ergue os muros de Jerusalém. Então te agradarás dos sacrifícios sinceros, das ofertas queimadas e dos holocaustos; e novilhos serão oferecidos sobre o teu altar. (Sl 51)
Para nossa alegria, Deus, na sua infinita misericórdia, atendeu aos anseios não só de Davi, como de todos os que o buscam em espírito e em verdade, materializando o perdão, a redenção e a reconciliação dos homens em Jesus. Nele, podemos encontrar a paz tão desejada por Davi que dá fim aos seus conflitos. Ele é a garantia, não só do rei como a nossa também, de que, no futuro, essa dualidade chegará ao fim e habitaremos para sempre com Ele, plenamente restaurados em corpo, mente e caráter.
E você,
está pronto para agir como Davi e desfrutar da companhia de Deus para
sempre em sua vida?