
Sangue nas ombreiras
Um dos grandes mistérios do cristianismo é entender como o sacrifício de Cristo é suficientemente poderoso para perdoar pecados, e o motivo para isto não ser tão claro é que, via de regra, precisamos nos esforçar para receber algo de bom. Este princípio retributivo permeia o mundo e, inclusive, todas as religiões que conhecemos, e por isso, automaticamente tentamos aplicá-lo também à mensagem de Cristo. Particularmente para mim, é muito fácil concluir que sou pecador, que mereço ir pro inferno e que preciso da misericórdia de Deus para que isto não aconteça. Esta convicção é tão clara para mim que, muitas vezes, me questiono se não há nenhuma brecha na promessa de expiação dos pecados pela qual a minha salvação poderia escapar porque, certamente, se há, então eu estarei incluído nesta exceção. Por outro lado, tenho muita dificuldade de me imaginar alcançável por esta maravilhosa graça.
Ao buscar uma resposta de Deus para este dilema, o Senhor me presenteou com um novo olhar sobre uma passagem Bíblica pra lá de conhecida, que consta no livro de Êxodo, e que me deu, de uma vez por todas, certeza de que o sacrifício de Cristo é a única coisa necessária para que eu seja aceito por Deus para viver com ele por toda a eternidade. Vamos ver qual é?
Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer. O animal escolhido será macho de um ano, sem defeito, e pode ser cordeiro ou cabrito. Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar. Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor. "Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito. "Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo. (Ex 12: 3-14)
Eu confesso que esta passagem me arrepia e maravilha, pois é a manifestação poderosa de dois atributos de Deus: sua justiça e misericórdia. Sua justiça pois Faraó, contrariando todas as súplicas dos israelitas e de Moisés, se negava a libertar o povo hebreu, e por isso, estava prestes a sofrer as consequências da décima praga em sua própria família; e sua misericórdia pelos hebreus, pois seriam poupados do grande castigo.
Mas afinal, o que havia de tão especial no povo hebreu que fez o Senhor não matar o primogênito de cada uma das casas por onde passou, aplicando sua justiça? A resposta está no próprio texto que acabamos de ler, e surpreendentemente, o Senhor não enaltece nenhum atributo de nenhum dos israelitas, por melhor que fossem. O segredo, na verdade, estava no poder salvador do sangue do cordeiro o qual foi passado nas ombreiras das portas. Note que este foi o único critério para a expiação do povo: não foi feita uma minuciosa diligência individual para averiguar quem merecia e quem não era digno de ser poupado naquela noite. Bastou o Senhor olhar o sangue e declarar que aquela casa estava livre do juízo. No dia seguinte, houve um grande pranto no Egito, e Faraó, enfim, libertou o povo, que despojou os egípcios e rumou para a terra prometida.
Este fato histórico é um prelúdio do que ocorrerá com toda a humanidade no dia do juízo. Nele, nos apresentaremos indignos, culpáveis e condenáveis a passar toda a eternidade longe de Deus no inferno, e a única salvação para os remidos será ter o sangue do perfeito Cordeiro imolado na porta de nossas vidas. É por isso que João Batista exclamou, quando viu Jesus no Rio Jordão: "Este é o Cordeiro que tira o pecado do mundo"! (Jo 1:29)
E você, já possui sua vida marcada pelo sangue de Jesus? Se não, se apresse assim como fizeram os hebreus, e clame a Jesus hoje mesmo para que a marque com ele, dando-lhe o poder da fé na suficiência do seu sacrifício e a certeza de que seus pecados estão perdoados. Quando isto acontecer, você não precisará mais temer a morte quando o juízo acontecer e estará a salvo, com Deus, por toda a eternidade.