
Por que Jesus usava parábolas para se comunicar?
Eu nasci num lar católico. Quando criança, minha mãe me matriculou no catecismo, e me deu um novo testamento, o qual o tenho até hoje.
Lembro-me que, nas aulas aos sábados, as passagens que eu mais gostava de ouvir eram as parábolas. Eu me imaginava sentado na grama, no campo, ouvindo-as pronunciadas pela boca do próprio Jesus, e por um momento, me transportava para aquela situação, sentindo todo o acolhimento e prazer que os ouvintes do Mestre devem ter vivenciado naquela época.
Muito tempo depois, após o meu encontro com Cristo, ao reler o Novo Testamento sob uma outra perspectiva, lembro-me de me deter numa parte do evangelho de Mateus, que dizia que o Senhor, voluntariamente, havia escolhido ocultar os mistérios do Reino de Deus dos homens, e assim o fez por meio da revelação destes por meio de parábolas. Num primeiro momento, isto foi chocante; afinal, como poderia um Deus justo privar pessoas de conhecer os mistérios de Deus? E se essas pessoas que não compreenderam as parábolas tivessem assimilado a essência da mensagem de Jesus na íntegra, caso não a tivessem ouvido sob essa forma, e tivessem se convertido? Não teriam sido elas salvas? Ao agir dessa forma, Deus não estaria privando maquiavelicamente seres humanos da salvação, permitindo sordidamente que essas pessoas fossem ao inferno, onde o sofrimento nunca se extingue?
Frente a esta aparente contradição, achei por bem lançar luz sobre este assunto, para enfatizar um aspecto ignorado por nós, e principalmente não levado em consideração no nosso modo de viver e pensar. Vamos, antes, analisar a referida passagem:
Os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram: "Por que falas ao povo por parábolas?" Ele respondeu: "A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles não. A quem tem será dado, e este terá em grande quantidade. De quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Por essa razão eu lhes falo por parábolas: 'Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem'. Neles se cumpre a profecia de Isaías: 'Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão. Pois o coração deste povo se tornou insensível; de má vontade ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os seus olhos. Se assim não fosse, poderiam ver com os olhos, ouvir com os ouvidos, entender com o coração e converter-se, e eu os curaria'. Mas, felizes são os olhos de vocês, porque vêem; e os ouvidos de vocês, porque ouvem. Mt 13: 10-16
Jesus permitiu que os seus discípulos e seguidores tivessem acesso às interpretações das parábolas pois eles tinham, sob um aspecto espiritual, olhos e ouvidos para absorver a mensagem e as maravilhas do evangelho, ao passo que a multidão em geral não os possuíam, e isto se deve não por uma deficiência física, mas porque o coração desta multidão encontrava-se distante de Deus, a ponto de não haver nenhum interesse genuíno na mensagem de Jesus para que a transformação de vida, ali ofertada pelo Cristo, se concretizasse em suas vidas. Ou seja, não havia o sincero interesse de que as suas vidas fossem transformadas, por meio da mensagem de Jesus, e fossem salvos.
Mais uma vez, esse pré-julgamento de Jesus nos soa mal porque, para nós, é impossível sondar o coração das pessoas e nos torna passíveis de cometer erros, mas não podemos nos esquecer de que o relato desta passagem do evangelho se refere a Jesus, o próprio Deus encarnado que, apesar de estar em um corpo humano, possuía seus atributos divinos, dentre eles, a onisciência. Por isso, sua postura e julgamento eram infalíveis e não deixavam margem a erros.
Como prova do correto julgamento de Jesus, devemos enfatizar que, num primeiro momento, as parábolas não estavam claras para nenhum dos seus ouvintes. No entanto, a todos àqueles que buscaram esclarecimento, Jesus o deu. Isto é evidenciado na continuação deste capítulo do evangelho de Mateus, quando Jesus interpreta e esclarece a sua mensagem, inicialmente dita em parábolas, aos seus discípulos. Ou seja, não contentes com a ignorância do pecado, estes buscaram a Jesus, para que a luz dissipasse as trevas dos seus corações, e fossem salvos e transformados pela Palavra de Deus.
Não se enganem: nós, no século XXI, temos o privilégio de absorver esta mensagem milenar com a facilidade com a qual aquelas multidões não desfrutavam, pois está escrito, nos evangelhos, não apenas as parábolas, como também as suas respectivas interpretações: em todos os idiomas do mundo. Contudo, ainda assim, a humanidade (inclusive "cristãos" de denominação) permanece em trevas, pois se recusa a ouvir e absorver a mensagem de Jesus com o coração, tal como aqueles incrédulos, evitando assim voltar à comunhão com Deus e terem as suas vidas transformadas, por meio da negação de suas vidas e aceitação incondicional da mensagem de Jesus, provando, dessa forma, que a postura de Jesus, na época em que esteve entre nós, estava correta.
Eu bem sei que a capacidade interpretativa do Evangelho não depende de nós, e digo isso por experiência própria. Somente ao nos aproximarmos de Deus é que aspectos perpétuos do Seu caráter e vontade tornam-se claros. No entanto, se esta deficiência te incomoda, assim como a mim, convido você a fazer uma oração agora e a pedir a Deus que transforme a sua vida, dando-lhe ouvidos para ouvir e olhos para ver, de modo que o poder de Deus entre na sua vida e lhe transforme, assim como fez com aqueles discípulos há mais de dois mil anos.
Você está pronto para ser transformado?