O apóstolo incrédulo e o ladrão arrependido
Não é necessário ser cristão para conhecer a história bíblica de dois personagens bíblicos pra lá de famosos: Judas Iscariotes e o ladrão arrependido crucificado junto com Jesus, cujo nome é desconhecido.
Recentemente, meditei sobre o quão felizardo fui por ter me encontrado genuinamente com Jesus aos dezenove anos, e por Ele ter feito morada em meu coração. No entanto, ao analisar atentamente a multidão de pessoas que tiveram o privilégio de conhecer a Jesus pessoalmente, notamos que muitas delas simplesmente desperdiçaram a oportunidade de suas vidas por se contentarem em apenas conhecê-lo, receber uma bênção ou uma cura, mas não se interessarem em desenvolver um genuíno relacionamento com Ele e terem crido em sua divindade.
Neste extremo negativo se encontra Judas Iscariotes, aquele que, mais tarde, o trairia por sua ganância desenfreada. Ele teve a oportunidade de se relacionar com Cristo desde o início, ouviu as mesmas pregações que os outros onze apóstolos, seus olhos testemunharam muitas curas e ressurreições, mas escolheu se relacionar superficialmente com Jesus. Na verdade, ele nunca o reconheceu como o "Deus conosco", o cumprimento da profecia de que Deus não se esqueceria da humanidade e providenciaria o nosso pleno e suficiente resgate: Deus na forma de homem. Pelo contrário, Judas se refere a Jesus no máximo como Rabi, que significa Mestre; e só. A Bíblia também relata que ele, após ter tomado consciência de sua traição, movido pela ganância, sentiu remorso e deu fim à sua existência por meio de suicídio. Sem dúvida alguma, um triste fim.
No extremo oposto se encontra o ladrão arrependido crucificado juntamente com Cristo. Provavelmente ele já havia ouvido falar sobre a fama de Jesus, mas provavelmente não chegou a conhecê-lo pessoalmente, antes do fatídico encontro no calvário: pendurado numa cruz, restando-lhe pouco tempo de vida. No caminho inverso de Judas, inicialmente ele zombou de Jesus juntamente com a multidão, pois o intitulado Filho de Deus, que muitos salvou e curou, estava ali, igualmente condenado, aguardando o seu fim. No entanto, a ele estava reservado um destino muito melhor do que o que acometeu Judas: o arrependimento antes do último suspiro. O Senhor lhe concedeu a graça do arrependimento e, ao atacar o ladrão não arrependido por blasfemar contra Deus, manifestou aspectos evidentes de sua conversão no último instante: ele recriminou seu par por não crer em Deus, ainda que na iminência da morte, confessou os seus pecados, afirmou que merecia a condição na qual se encontrava e clamou por perdão a Jesus, que afirmou categoricamente: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso".
Essas duas histórias, completamente antagônicas, quando comparadas, têm uma lição de vida muito profunda: não importa o quão religiosos somos: se a nossa religiosidade não for um reflexo do nosso renascimento em Cristo e da espiritualidade derivada deste ato exclusivamente divino, ela será vã, e servirá apenas para agravar a nossa condenação no Grande Dia; ouviremos a sentença condenatória tal como milhares de milhões de cristãos hipócritas sentenciados a viverem uma vida eternamente longe de Deus. E para não sermos incluídos no grupo de Judas? O que posso fazer? Apesar de parecer perturbadora, esta verdade guia os verdadeiros crentes ao genuíno arrependimento, marca incontestável da verdadeira salvação em Cristo, e os aproxima de Deus, detentor de todo o perdão; o único capaz de promover a geração de um novo homem à Sua imagem e semelhança.
Que possamos nos enxergar assim como o ladrão na cruz se enxergou: como um ser miserável, carente e totalmente necessitado de misericórdia e perdão divino.