
Mentira
João afirma,
em seu evangelho, que o diabo é o pai da mentira, e ele assim afirma não apenas
por ele ser enganador, mas também porque, sem a mentira por ele proferida no
Jardim do Éden, o homem até hoje estaria em comunhão plena com Deus. O diabo
foi o primeiro mentiroso a estar na Terra e, se não fosse por isso, a história
da humanidade seria totalmente diferente.
Com um pai como esse, não é de se estranhar que a mentira ocupe um lugar de destaque quando o assunto é roubo, morte e destruição. Também não é coincidência que, numa metáfora, Jesus compara o diabo a um ladrão, que vem para furtar, matar e destruir. Sendo o gatilho do primeiro pecado cometido pela humanidade, é natural que a mentira esteja presente em quase todos os atos perversos do ser humano. Apenas para enumerar alguns: um ladrão não rouba e conta publicamente que praticou um furto, mas antes, tenta ocultar o seu delito para não pagar o preço da difamação que seria causada, caso fosse flagrado roubando; um assassino, ao matar, tenta ocultar o cadáver de sua vítima, pelo menos motivo que o assaltante esconde o seu roubo; o adúltero nunca chegará em casa contando sobre sua traição; antes, mentirá para a sua esposa, para que o seu casamento não seja desfeito por sua infidelidade. O administrador, ao aumentar o seu bônus, adultera um relatório contábil da empresa para roubar ou aumentar o seu prêmio, ou preservar o seu emprego, mas não conta para o seu chefe a sua fraude, para não manchar a sua reputação.
Você consegue enxergar o que há de comum entre os quatro erros tão distintos enumerados acima? É a mentira, que surge como uma aliada do erro e do pecado, pois é ela que tenta garantir os frutos do erro. Quem mente, faz isso pois acredita que, ao mentir, conseguirá o que quer impunemente, sem precisar pagar pelas consequências dos seus erros. Deseja realizar os desejos ruins do coração, mas sem pagar por suas consequências destrutivas. Ainda pior: com o tempo, o mentiroso acaba acreditando na legitimidade de sua mentira. De tão poderosa e maligna, ela tem o poder de convencer até mesmo quem a conta, afundando o mentiroso cada vez mais, deixando-o conformado com uma realidade destrutiva, seja ela qual for.
A Bíblia também está cheia de exemplos de mentiras, e ela relata que todas as pessoas, num grau ou em outro, são mentirosas. Isso é fruto da natureza afetada do homem pela propagação do pecado. Adão e Eva, ao não confessarem os seus pecados a Deus, no Éden, assumiram sua natureza mentirosa e recém-decaída, e com isso, estenderam para toda a raça humana e o mundo esta essência e suas consequências. Caim mentiu para Deus quando foi questionado sobre onde estava seu irmão Abel, após matá-lo; Abrão mentiu dizendo que Sara era apenas sua irmã ao entrar no Egito, para tentar salvar a sua pele e não ser morto; Davi tentou privilegiar Urias mandando-o para casa antes do fim da guerra, para ocultar sua traição com Bate-Seba; e até mesmo na morte de Jesus, Judas o beijou falsamente, chamando o Senhor de mestre, entregando-o à morte por trinta moedas de prata. Vale ressaltar que, nos últimos dois exemplos de Davi e Judas, eles não chegaram a proferir mentiras propriamente ditas, mas houve a intenção de ocultar a verdade, o que, em si, já reflete a natureza da mentira.
Por ser tão nociva e abominável, na esfera espiritual, é impossível que alguém se relacione com Deus baseando-se em mentiras, e por isso, Ele prometeu que todas as pessoas que deliberadamente amarem esta prática serão destinadas à condenação eterna; contudo, por Deus ser misericordioso, Ele não negou o favor imerecido da reconciliação, e está disposto a perdoar todos aqueles que assumem a responsabilidade por seus pecados, livrando-se da mentira que os encobre, para desenvolverem uma relação sincera e autêntica com Deus:
Esta é a mensagem que dele ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz; nele não há treva alguma. Se afirmarmos que temos comunhão com ele, mas andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Se, porém, andamos na luz, como ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. Se afirmarmos que não temos cometido pecado, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 Jo 1: 5-10)
Por fim, Jesus prometeu que criará uma terra incorruptível, que será habitada por todos aqueles que creram em seu nome ainda em vida, e como um dos atos deste evento, a mentira do mundo será aniquilada, e os atos ocultos por ela serão revelados.
Nesse meio tempo, tendo-se juntado uma multidão de milhares de pessoas, a ponto de se atropelarem umas às outras, Jesus começou a falar primeiramente aos seus discípulos, dizendo: "Tenham cuidado com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. O que vocês disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será proclamado dos telhados. (Lc 12:1-3)
O que se pode notar, neste ponto, é que o fato de se conformar com a mentira ou não é um fiel indicador de onde cada um de nós passará a eternidade, não pela mentira em si, mas pelo amor à mentira ser um indício da natureza corrompida e decaída do ser humano que apenas Jesus tem o poder de restaurar, mediante a ação do seu poder sobrenatural. Por isso, o meu desejo é que cada um de nós queira desenvolver uma relação sincera e verdadeira com Jesus, pois Ele se agrada disso, para que o Seu agir regenerador aja livremente no coração de cada um de nós e possa nos transformar em Sua imagem e semelhança, sem mentiras.
E você, de que lado quer estar?