
A Ressurreição
A Bíblia nos conta que, há pouco mais de dois mil anos, em um domingo após a celebração da Páscoa judaica, um evento sobrenatural ocorreu. Na sexta-feira que antecedeu aquele dia, haviam sido condenados à morte, por crucificação, três homens: um deles era Jesus, e os outros dois, eram ladrões.
Ao constatar que Jesus estava morto, José, um homem rico e membro do sinédrio (tribunal dos antigos judeus, composto de sacerdotes, anciãos e escribas), e que não havia concordado com a condenação de Cristo, solicitou a Pilatos que lhe desse o corpo de Jesus. A Bíblia ensina que, havendo removido o corpo de Jesus da cruz, ele o envolveu num lençol de linho e o depositou num túmulo aberto em rocha, onde ninguém havia sido sepultado antes.
Algumas mulheres, que acompanhavam Jesus desde a Galileia, viram o túmulo onde Jesus foi colocado e, nas primeiras horas do domingo, foram ao local, levando aromas que haviam preparado. No entanto, ali chegando, não encontraram o corpo, senão dois homens, com vestes resplandecentes, que as informaram que Jesus havia ressuscitado. Elas, então, se lembraram do que Jesus havia dito antes de sua prisão e condenação, como relatado, por exemplo, no evangelho de Mateus:
Enquanto estava subindo para Jerusalém, Jesus chamou em particular os doze discípulos e lhes disse: "Estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para que zombem dele, o açoitem e o crucifiquem. No terceiro dia ele ressuscitará!" (Mt 20: 17-20)
Todos os anos, os cristãos de todo o mundo celebram esta data especial. Mas o que esta vitória sobre a morte representa para nós, afinal? Para responder a esta pergunta, é necessário analisarmos algumas passagens do Antigo Testamento, a começar pelo livro de Gênesis.
Após Adão e Eva pecarem e serem destituídos do livre acesso a Deus que eles usufruíam, Deus prometeu que o homem não permaneceria para sempre longe de Deus.
"Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar." (Gn 3: 15)
Isto é, naturalmente, uma metáfora, que relata sobre o golpe que a serpente (Satanás), atriz pivô da queda do homem, receberia: apesar do Salvador (Jesus) ser ferido por ela, Este esmagaria a sua cabeça.
Já no decorrer da História de Israel narrada no Antigo Testamento, muitas pessoas anunciaram que Deus enviaria um Messias para cumprir com a promessa de redenção, mas na minha opinião, ninguém foi tão claro quando o profeta Isaías:
"Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel." (Is 7: 14)
No entanto, não apenas Isaías registrou este acontecimento extraordinário centenas de anos antes de sua concretização, como também escreveu sobre todo o processo que o Messias sofreria em sua morte. No capítulo 53 de seu livro, o profeta disserta sobre como Ele deveria morrer, e confirma a sua missão redentora descrita em Gênesis:
"Quem creu em nossa mensagem e a quem foi revelado o braço do Senhor? Ele cresceu diante dele como um broto tenro, e como uma raiz saída de uma terra seca. Ele não tinha qualquer beleza ou majestade que nos atraísse, nada em sua aparência para que o desejássemos. Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima. Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças, contudo nós o consideramos castigado por Deus, por ele atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. Com julgamento opressivo ele foi levado. E quem pode falar dos seus descendentes? Pois ele foi eliminado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado. Foi-lhe dado um túmulo com os ímpios, e com os ricos em sua morte, embora não tivesse cometido qualquer violência nem houvesse qualquer mentira em sua boca. Contudo foi da vontade do Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora o Senhor faça da vida dele uma oferta pela culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e a vontade do Senhor prosperará em sua mão. Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles. Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fortes, porquanto ele derramou sua vida até à morte, e foi contado entre os transgressores. Pois ele carregou o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores." (Is: 53)
Neste capítulo, fica claro que Isaías relata sobre a vinda de alguém que teria uma vida muitíssimo penosa, especialmente nos momentos que antecederiam a sua morte. No entanto, o profeta também descreve que este sofrimento todo teria o propósito de redenção, ou seja, que as muitas profecias que anunciaram que Deus haveria de enviar um Redentor, seriam cumpridas nesses moldes.
Nós, cristãos, enxergamos em Jesus o cumprimento
das profecias feitas a Israel e que abrangem todos os povos. Nós acreditamos que
Jesus é o Messias prometido no Antigo Testamento, com a missão de livrar toda a
humanidade de seu mal maior, que é o pecado, e que Ele se entregou, como
sacrifício vivo em nosso lugar, para que a paz e a comunhão entre Deus e o
homem fossem restabelecidas. Diferentemente de um evento fúnebre marcado pela
morte na sexta-feira, celebramos a ressurreição, que é a vitória sobre a morte
que ocorreu naquele domingo, e é graças a essa vitória que, hoje em dia, temos
um Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, que tem o poder de nos purificar de todo o
pecado, restabelecendo, em nosso favor, o dom da vida plena junto a Deus.