
A Ceia do Senhor
No primeiro domingo deste mês, na igreja, participei da Ceia do Senhor, e notei que havia dúvidas de certos visitantes quanto ao fato de se eles poderiam (ou deveriam) participar daquele momento, que é uma celebração instituída por Jesus. Frente a isto, e tendo em vista que estamos nas semanas que antecedem a celebração da Páscoa cristã, julguei ser este o momento mais oportuno para dissertar sobre esta ordenança instituída para a sua igreja, a ser celebrada através dos séculos, até a vinda do Senhor.
Historicamente, a primeira Ceia do Senhor ocorreu na época da Páscoa judaica, que foi instituída pelo próprio Deus a Moisés e Arão. Naquela época, os filhos de Israel ainda se encontravam sob o jugo de Faraó e do Egito. No entanto, poucas horas após a sua celebração, se cumpriu, a favor dos israelitas, a promessa de libertação do jugo imposto por Faraó. Segundo o relato que se encontra no livro de Êxodo, assim ocorreu a primeira Páscoa da história:
O Senhor disse a Moisés e a Arão, no Egito: "Este deverá ser o primeiro mês do ano para vocês. Digam a toda a comunidade de Israel que no décimo dia deste mês todo homem deverá separar um cordeiro ou um cabrito, para a sua família, um para cada casa. Se uma família for pequena demais para um animal inteiro, deve dividi-lo com seu vizinho mais próximo, conforme o número de pessoas e conforme o que cada um puder comer. O animal escolhido será macho de um ano, sem defeito, e pode ser cordeiro ou cabrito. Guardem-no até o décimo quarto dia do mês, quando toda a comunidade de Israel irá sacrificá-lo, ao pôr-do-sol. Passem, então, um pouco do sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas nas quais vocês comerão o animal. Naquela mesma noite comerão a carne assada no fogo, juntamente com ervas amargas e pão sem fermento. Não comam a carne crua, nem cozida em água, mas assada no fogo: cabeça, pernas e vísceras. Não deixem sobrar nada até pela manhã; caso isso aconteça, queimem o que restar. Ao comerem, estejam prontos para sair: cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão. Comam apressadamente. Esta é a Páscoa do Senhor. "Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor! O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito. "Este dia será um memorial que vocês e todos os seus descendentes o comemorarão como festa ao Senhor. Comemorem-no como decreto perpétuo. (Ex 12: 1-14)
A consumação da Ceia do Senhor ocorreu neste contexto de celebração, segundo os relatos dos evangelhos de Mateus, Lucas e João. Para esta discussão, optei por transcrever o trecho correspondente que se encontra no evangelho de Lucas:
Finalmente, chegou o dia dos pães sem fermento, no qual devia ser sacrificado o cordeiro pascal. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: "Vão preparar a refeição da Páscoa". "Onde queres que a preparemos? ", perguntaram eles. Ele respondeu: "Ao entrarem na cidade, vocês encontrarão um homem carregando um pote de água. Sigam-no até a casa em que ele entrar e digam ao dono da casa: 'O Mestre pergunta: Onde é o salão de hóspedes no qual poderei comer a Páscoa com os meus discípulos? ' Ele lhes mostrará uma ampla sala no andar superior, toda mobiliada. Façam ali os preparativos". Eles saíram e encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito. Então, prepararam a Páscoa. Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa. E disse-lhes: "Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus". Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: "Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus". Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim". Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. (Lc 22: 7-20).
Na época da celebração da Ceia do Senhor, os discípulos de Jesus não sabiam que aquele memorial milenar instituído a Moisés ganharia um novo significado. Aproveitando-se de um paralelismo com o Êxodo, Jesus ampliou o significado e a abrangência da Páscoa judaica para todos aqueles que nEle viessem a crer, a saber, os cristãos da nova era que estava prestes a iniciar, judeus ou não.
Na noite da celebração da Ceia do Senhor, Jesus foi entregue para ser preso, e em seguida ser julgado e sacrificado à morte, tal como os cordeiros foram na ocasião do êxodo do Egito. Quando, na Ceia do Senhor, ele menciona que o corpo dele seria dado em favor dos discípulos, e que o sangue dele seria derramado em favor deles, ele fez uma alusão àqueles cordeiros sacrificados na noite em que Israel foi liberto das mãos de Faraó. Só que, aumentando a abrangência do segundo sacrifício relatado nos evangelhos, não mais para ser liberto das mãos de um governante tirano, mas sim das garras do pecado e, consequentemente, da morte. Ou seja, assim como em outras passagens, na noite da Última Ceia, Jesus afirmou que Ele seria o Messias prometido por Deus que haveria de libertar o homem do pecado da humanidade, através do seu sacrifício, tal como relatado no Antigo Testamento.
Portanto, ao pedir para celebrarem a Ceia do Senhor, Jesus estava ordenando à nascente comunidade cristã que, daquele momento em diante, se reunissem para celebrar a obra redentora de Cristo e todos os benefícios a ela atrelados. Ao se reunirem para participar da ceia, os cristãos entram em comunhão espiritual com o próprio Cristo, sendo este um testemunho a ser dado até a volta do Senhor e a consumação dos séculos. Ao participar da Ceia, os cristãos se alimentam do Corpo de Cristo, e testificam a promessa de que Deus enviaria a expiação pelos pecados da humanidade para que, por meio dela, Deus restabeleça a comunhão com os crentes em Cristo, por meio de seu sacrifício.
Observando a abrangência universal das consequências disso, e a seriedade daquele evento, o apóstolo Paulo, na primeira carta aos Coríntios, diz o seguinte:
Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. (1 Co 11: 28-29)
Nesta passagem, Paulo instrui a que não participem da Ceia as pessoas que não creem em Cristo no sentido bíblico, ou seja, aquelas que ainda não assumiram o compromisso eterno e consciente de o seguirem mediante a entrega de suas vidas a Ele. Ou seja, as pessoas que ainda não se tornaram, à luz da Bíblia, cristãos. Por isso, antes de participar desse momento, é necessário examinar a própria consciência e responder, de forma sincera e honesta para si mesmo, se a decisão de ser um discípulo de Cristo já foi tomada com seriedade e constância.
E você, já assumiu este compromisso? Caso ainda não tenha tomado esta decisão, convido você a se render a Jesus e depositar a confiança de sua salvação no Seu sacrifício para participarmos juntos deste momento, com Cristo, hoje e por toda a eternidade.